Introdução
O comércio global enfrenta um cenário de incertezas e desafios em 2026, marcado por tensões comerciais, desaceleração econômica e mudanças nas políticas econômicas de grandes potências. Com a escalada de barreiras tarifárias, conflitos geopolíticos e a persistência de riscos climáticos, as projeções para o próximo ano indicam um crescimento modesto, porém abaixo do potencial histórico. Este artigo analisa as principais tendências e fatores que moldarão o comércio internacional em 2026, com base em relatórios recentes de instituições como o Banco Mundial, FMI, OCDE e OMC.
1. Desaceleração do Crescimento Econômico e Seus Impactos no Comércio
O crescimento global está perdendo força, com projeções revisadas para baixo pelas principais instituições financeiras:
- Banco Mundial: Espera-se um crescimento de 2,4% em 2026, abaixo dos 3,3% registrados em 2022, devido a barreiras comerciais e incertezas políticas
- FMI: Projeta 3,0% em 2026, com destaque para os efeitos negativos das tarifas comerciais impostas pelos EUA e retaliações de outros países .
- OCDE: Mantém uma estimativa conservadora de 2,9%, alertando para riscos inflacionários e interrupções nas cadeias de suprimentos .
Essa desaceleração reflete-se no comércio internacional. A OMC prevê uma contração de 0,2% em 2025, com recuperação limitada para 2,5% em 2026 — desde que não haja escalada tarifária. Caso contrário, a retração pode chegar a 1,5% .
2. Guerras Comerciais e Fragmentação do Sistema Multilateral
A política protecionista dos EUA, sobretudo contra a China e a União Europeia, continua a gerar instabilidade:
- Tarifas bilaterais: Um aumento adicional de 10 pontos percentuais nas tarifas dos EUA reduziria o PIB global em 0,3% em dois anos, segundo a OCDE .
- Retaliações: China e UE adotaram medidas compensatórias, afetando setores como tecnologia e manufatura. O FMI destaca que a incerteza política desencoraja investimentos e amplia a volatilidade cambial .
A OMC alerta que a fragmentação do comércio marginaliza economias menores, exigindo reformas no sistema multilateral para evitar colapsos em cadeias de suprimentos .
3. Desempenho Regional: Quem Sobressai e Quem Enfrenta Dificuldades?
- Economias avançadas:
- EUA: Crescimento revisado para 1,7% em 2026 (FMI), com consumo e investimentos pressionados por tarifas .
- Zona do Euro: Estagnação em 1,2%, com Alemanha e Espanha como exceções devido a gastos públicos e turismo .
- Emergentes:
- China: Projeção de 4,3% (FMI) ou 4,5% (OPEP), com desafios no setor imobiliário e exportações .
- Brasil: Crescimento modesto de 2%, limitado por juros altos e queda na demanda por commodities .
- Índia: Destaque com 6,3%, embora abaixo de expectativas anteriores .
- Exportadores de commodities: Oriente Médio e África Subsaariana podem se beneficiar de preços voláteis, mas sofrem com a redução da demanda global .
4. Riscos Adicionais: Inflação, Clima e Dívidas
- Inflação: Apesar da desaceleração para 4% em 2024 (ONU), alimentos e energia mantêm pressões, especialmente em países em desenvolvimento .
- Eventos climáticos: Secas e enchentes disruptivas ameaçam a produção agrícola e logística, como visto na Ásia e América do Sul .
- Endividamento: Países menos desenvolvidos enfrentam risco de crise fiscal, com crescimento caindo de 4,5% (2024) para 4,1% (2025) .
5. Caminhos para uma Recuperação Sustentável
Instituições multilaterais defendem:
1. Diálogo comercial: Acordos para reduzir tarifas e evitar escaladas, como a trégua temporária EUA-China .
2. Estímulos fiscais direcionados: Priorizar infraestrutura e transição energética, como na Alemanha .
3. Cooperação global: Conferências como a da ONU em Sevilha (2025) buscam soluções para financiamento sustentável .
Conclusão
2026 será um ano de teste para a resiliência do comércio global. Enquanto a recuperação pós-pandemia perde força, fatores como guerras comerciais e clima exigem ações coordenadas. Economias diversificadas e com políticas anticíclicas, como Índia e Espanha, podem se sair melhor, mas o cenário ainda depende da capacidade de líderes globais em evitar a fragmentação econômica.
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